terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Auto indulto confessional 1.

Quando garoto, bem garoto, não tinha muitos amigos, talvez tivesse uns 5 amigos. Uma grande porção de colegas, isso é verdade, mas no geral ou eu não me importava com eles, ou o contrario, o que no final das contas dá exatamente no mesmo.

Dentre os que eu considerava amigos, tinha lá um ou outro que eu não me importava tanto assim, acho que a gente não sabe direito o que é ser amigo quando é bem criança, garotos pré adolescentes (e adolescentes também) são egoístas e egocêntricos demais pra perceber que não são bosta nenhuma. Estou incluído nessa. Mesmo levando uma surra ou outra de garotos maiores do que eu eventualmente, continuava pensando que eu valia alguma coisa.

Pois bem, o lance é que tinha esse garoto, não vou dizer o nome dele pra não foder com a vida dele. Ele tinha uma risada atoleimada, exibia os grandes dentes na boca quando ria, um riso bem no meio da sua cara redonda de bochechas rosáceas. Não que ele fosse um frangote, longe disso, ele tinha tamanho o suficiente pra deixar os valentões menos interessados nele. O irmão dele era um pouco mais velho, não me lembro ao certo o quanto, talvez um ou dois anos. Sei que era mais velho o bastante pra acabar com a gente no muque, se ele assim o desejasse.

Apesar de ambos serem acometidos de uma leve idiotice, era divertido o bastante estar perto deles, creio até que justamente por serem um pouco idiotas. Gostávamos de assistir a filmes idiotas e de ler a revista MAD. O garoto tinha asma, certa vez veio até minha casa, eu lhe disse uma idiotice qualquer que fez com que ele risse tanto que um pequeno jorro de vômito projetou-se boca afora, enquanto ele, tremulo, tentava alcançar sua bombinha na mochila. A mochila estava em cima da minha cama, o que fez com que o vômito dele caísse por lá também. Isso me irritou sobremaneira, primeiro porque o que eu disse não era nada demais e segundo pelo maldito vômito daquele asmático.

Mas mesmo ele sendo esse garoto com essas não virtudes, não merece a vileza que eu cometi com ele certa feita.

Sabe, o lance é que, apesar de eu ter certas regras até que rígidas em minha casa, não se comparavam às regras da casa dele. Teve um dia em que eu fui à casa dele, para nadar (havia lá uma bela piscina, mas não podíamos saltar nela, o que era uma bosta) e jogar vídeo game. No caso, eu levei o meu vídeo game. Estávamos jogando super Mario brothers, o primeiro de todos, grande lançamento. Logo depois de um tempo sua mãe nos chama para jantar, sendo assim, desligamos tudo e descemos para jantar. Comemos, voltamos a subir e, por incrível que pareça, me foi informado que logo seria a hora de dormir. Eu não dei muita bola, começamos a ler nossas revistas MAD e a falar toda sorte de idiotices que um garoto de 12 anos falaria. Pouco depois de meia hora, sua mãe aparece no quarto e nos manda desligar tudo e ir dormir. Puta que o pariu, dormir as 21:30 foi demais, aquilo me deu nos tomates de uma forma que despertou tudo o que eu tinha de pior. Continuamos lendo as revistas com lanternas e, uma repreendida ou duas depois, tivemos que apagar todas as luzes. Conversamos asneiras por mais um tempo, até que em determinado momento, ele decidiu me contar que o pai dele tinha uma amante e que a mãe soube, houve uma crise na família. Ele me foi bem explícito:

- Cara não vai falar nada, hein meu!
- Claro que não, pode deixar.

No dia seguinte, na mesa do café, em determinado momento eu perguntei:

- Como era o nome da mulher mesmo? Maria Joana?
- Maria Joana, isso mesmo – respondeu com cara de merda.

Passados todos esses anos, continuo me arrependendo dessa minha impertinência.

3 comentários:

Anônimo disse...

6.

Anônimo disse...

não sabia que você tinha um blog, cheguei aqui pelo do vader. muito legal!
(é a bia, amiga dos indahousers)

Natasha disse...

apesar do seu arrependimento, estou morrendo de rir... porque afinal todos temos nosso lado vingativo, sendo nós humanos...

vc é um ótimo escritor! Se eu fosse agência te contratava como redator!

Bjs Naty