terça-feira, 16 de junho de 2009

Ferimentos sérios e freio gasoso

Há muito que escrevo aqui sobre os infortúnios de outrem, espalho frivolidades das quais fui testemunha ou simplesmente ouvi contar, o que por si só já é o bastante para tirar a credibilidade do escrito. Felizmente o blog não trata-se de nada jornalístico, de modo que o que importa se o relato é uma história ou uma estória.

Calhou de que não sou protagonista de nenhuma delas. Mesmo já me pedindo, não escrevi presepada alguma de minha autoria. Pois bem, vou por um fim nisso agora.

Certa sexta feira, não tão longínqua, um amigo, até então morador do Rio de Janeiro, veio vistar-nos cá em São Paulo. Considerando a solene ocasião de sua presença, combinamos que iríamos à casa de um terceiro, que havia organizado uma festinha para celebrar a presença do visitante. Passei em casa de minha namorada para buscá-la e depois passei para pegar o ilustre afim de irmos para a festa.

Passado um bom tempo de trânsito, entre todos esses pontos, chegamos lá, onde havia comida, bebida em farta abundância. Enquanto tomava uma cerveja, decidi buscar uns petiscos então apoiei o copo de vidro em uma mesa também de vidro afim de ir até a mesinha de comidas e ingerir um algo, afinal de contas, nada de jantar ou de refeição alguma desde a hora do almoço.

Estava eu a no anti-narcoléptico ato mastigatório, com uma canapé na boca e outro em punho, quando minha namorada chamou-me para sentar ao lado dela. Com toda fluidez de um acróbata do circo chinês, caminhei por entre os convidados, e, ao chegar no meu destino, desabei no sofá, num desleixo de compostura que só não foi notado porque eu golpeei, impetuosamente, o copo o qual estava me servindo de cálice, que por sua vez, num ato vingativo de karma instantâneo, me cortou ao se partir em frangalhos.

Como foi muito rápido, mal me doeu, mas foi possível de se ver o vermelhinho familiar e mal-vindo do sangue a desbravar os limites do além veias. No caso, minhas veias. Me pareceu prudente ir até o banheiro verificar a gravidade da mácula física que havia me auto-impingido.

Cheguei na frente do espelho, ergui o cotovelo à frente do espelho e vi o que não queria. Um ferimento mais grave do que esperava. Além de ser possível de se ver todas as camadas da epitele, tal qual uma ilustração de livro de ciências, vi o osso do cotovelo. Note que até então não tinha consciência dessa minha fraqueza para coisas dessa natureza.

Minha namorada e a de meu amigo vieram em meu socorro, iniciaram o procedimento de limpeza no ferimento e tentavam aprontar um curativo. Durante todo esse processo, fiquei a refletir acerca da situação "puta merda, vai ter que dar ponto. Porra, nunca tomei ponto! Quando eu levei a namorada do Chofra pra tomar pontos o cidadão foi um açougueiro, enfiou uma agulha ferimento adentro com a anestesia. A garota gritou um grito bestial quando isso aconteceu, e as garotas são mais fortes para dor do que os homens, estou fodido!" Com tudo isso a me atribular os tomates, comecei a sentir, em forma de um suave apito nos ouvidos e um formigamento, o abraço do desmaio.

Desmaiei e levantei logo em seguida. O curativo ficou pronto e tudo deu certo. Mas o curioso foi que quando eu desmaiei, soltei o freio das pregas e, com a falta de pudor dos prestes a morrer, peidei.

Fim de papo.

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